domingo, 8 de março de 2009

Sem cebolas

Os jogos eletrônicos estão, a cada dia, tendo uma participação mais ativa na vida dos jovens.

Com Lucas, isso já virou vício. Depois que ganhou um vídeo game de presente dos pais, não faz outra coisa a não ser vidrar os olhos na tela e mover os dedos freneticamente. Outro dia quase apanhou de Dona Joana, sua mãe.

- Lucas, vem jantar.

- Espera um pouco, mãe, que eu tô quase zerando o Tomb Raider.

- Epa, pornografia, não!

- Mãe... esse é o nome do jogo.

Na escola, seu desempenho havia mudado muito.

-Lucas, quanto tempo durou a Segunda Guerra Mundial.

- Uns quatro dias, mas foi difícil zerar aquele jogo.

Vendo o tamanho do problema, seus pais tomaram uma atitude drástica.

- Mas pai...

- È isso mesmo. Você vai ficar sem vídeo game até segunda ordem. - repreendeu Seu Guilherme, pai de Lucas. - Nem ao banheiro você está indo mais.

- Pai, isso aí é refrigerante que eu derramei sem querer.

- Tanto faz. Até suas atitudes e notas melhorarem nada de vídeo game.

Dito e feito. Ficou sem vídeo game. Para o garoto aquilo foi um tormento. Porém, suas notas e atitudes melhoraram. Sua atenção, em comparação a de antes, era completamente diferente.

- Mãe, a senhora mudou seu corte de cabelo?!

- Foi... faz três semanas.

Um dia chegou assustado em casa.

- Pai, roubaram o nosso carro. Ele não está na garagem!

- Eu o vendi... faz um mês.

Depois de todas essas mudanças, Dona Joana e Seu Guilherme decidiram devolver o vídeo game para o filho. Mas, como todo vício que não é tratado de forma correta, trouxe de volta seus problemas.

- Lucas, eu e seu pai já estamos indo para a festa. Não fique jogando até tarde.

- Tá legal, mãe. Mas sem cebolas.

Por Júnior Pires

Nunca Saberemos

Creio que todos já sentiram a sensação do “nunca saberemos”. É uma sensação que invade todo o corpo numa perturbação quase claustrofóbica, pelo fato de sabermos que algo será desconhecido para todo o sempre.


Começa na infância, quando perdemos algum brinquedo e não o encontramos. Até hoje não sei onde perdi um bonequinho de plástico e um carrinho de flexão. Existem inúmeras possibilidades: eles podem ter sidos incinerados ou abduzidos por uma força externa (algum garoto que, na época, brincava comigo), porém eu “nunca saberei”. E quando crescemos isso piora.

Quantas vezes você não se viu numa situação como essa? E isso nos incomoda, porque o ser humano gosta de saber.


Rasgar uma carta fechada ou deletar um e-mail não lido ativa essa sensação aos extremos, fazendo as pessoas chegarem ao ponto de preferirem resolver problemas de trigonometria à sentirem essa sensação.


Mas já está sendo criado os primeiros grupos de apoio aos casos mais críticos; os que possuem a SNS (Síndrome do Nunca Saberemos). Entretanto, as experiências iniciais não foram das melhores.


-Oi, meu nome é Karla.
-Oi, Karla. -todos em coro.
-Hoje, eu estava conversando com meu namorado quando me distrai e não escutei algo que ele tinha dito. Pedi pra repetir, ele disse que não lembrava. Quando percebi que nunca saberia o que ele tinha dito, apertei o pescoço dele assim. Lembra desgraçado, lembra do que dissestes...


-Calma Karla, solta o pescoço do Seu Armando, ele não tem culpa, solta Karla...


Mas hoje a situação já está melhorando.


-Oi, meu nome é Karla.
-Oi, Karla. -todos em coro.
-Hoje faz três meses e quatro dias que não tenho crises.
-Parabéns, Karla.
-Espera... Quatro dias ou três dias?...Não lembro! E não anotei em lugar algum...
-Calma Karla... Solta o pescoço da Dona Adelaide, ela só serve o cafezinho no nosso grupo de apoio... Não, ela não sabe se foram três ou quatro dias, solta Karla...


É, não melhorou muito.


Acho que já se perguntaram por que é chamada de sensação do “nunca saberemos” se é uma sensação individual. É porque muitas vezes os casos são semelhantes e existe também a sensação coletiva.


Um caso célebre dessa sensação, coletiva, é o livro de Machado de Assis, Dom Casmurro. Capitu traiu ou não Bentinho? Muitas são as especulações. Houve quem recorresse ao espiritismo para entrar em contato com o autor, mas não conseguiu. Tentaram exumar o corpo de Machado à procura de alguma pista, mas a Academia Brasileira de Letras não permitiu... Eles já haviam feito isso, mas não deu em nada. E a sensação continua.


Vou terminado a crônica por aqui, pois tenho que ir pro grupo de apoio. Tomara que Karla esteja mais calma.

Por Júnior Pires

55 Palavras

10 palavras ditas por um capitalista: " Dinheiro não é tudo na vida. Existe também ouro, diamantes..."

9 palavras ditas por um filósofo: " A fome é amiga do homen, se for alimentada."

8 palavras ditas por um poliglota: " Tank you, danker, arigatô, gracias, mercy beaucop, obrigado."

7 palavras ditas por um marido que chega em casa tarde da noite: " Eu estava em uma reunião de negócios."

6 palavras ditas por um azarado: " Acordei com o pé direito... engessado."

5 palavras ditas por um vededor de carros usados: " Você não vai se arrepender."

4 palavras ditas por uma mulher que quer emagrecer: " Segunda-feira começo a dieta."

3 palavras ditas por uma pessoa sem dinheiro numa loja qualquer: " Depois eu venho."

2 palavras ditas por um candiato político: " Eu prometo."

1 palavra dita por um homem, hoje em dia, para tentar conquistar algumas mulheres: " Cachorra."

Por Júnior Pires